sábado, maio 12, 2007

O Montijo e o 25 de Abril


Catarina Marcelino
Membro da Assembleia de Freguesia de Montijo


Nos últimos anos o Município de Montijo tem levado a cabo comemorações do 25 de Abril que passam, fundamentalmente, por alguns eventos de cariz cultural e recreativo, excluindo totalmente acções de expressão político partidária, como aconteceu até ao ano 2000, refiro-me concretamente às sessões solenes com a presença de todos os partidos representados na Assembleia Municipal.

A expressão cultural é uma forma de dar corpo à liberdade de Abril. A liberdade de expressão é de facto uma conquista da democracia que deve ser lembrada e estimulada, porque é um dos mais importantes factores de desenvolvimento social. O 25 de Abril de 1998, em que os Partidos Políticos usaram da palavra de cima do Coreto da Praça da República, ou a inauguração da escultura da tágide na mesma Praça, um momento alto do 25 de Abril dos últimos anos. A música de Zeca Afonso, as palavras do Mestre Lagoa Henriques, a intervenção “de rua” da Presidente Amélia Antunes, foi de facto um momento realmente público, de carácter popular, que aludiu ao espírito da revolução dos cravos. Este ano Canha. A Freguesia mais distante da sede do Concelho. Vila histórica que encerra em si património cultural colocado à disposição da população, de forma democrática, através do Museu que ali se inaugura, no dia 25 de Abril de 2007.

Mas não podemos nem devemos em momento algum esquecer que a liberdade só é de facto possível, porque a democracia existe, e que os pilares de um Estado democrático são os Partidos Políticos. É a pluralidade democrática das ideias e dos projectos que permitem a pluralidade da arte, a liberdade de expressão. E é neste contexto de homenagem ao 25 de Abril e à democracia portuguesa, que recolocou o país novamente na Europa e no mundo dos direitos humanos, do progresso e do desenvolvimento, que defendo a participação activa dos partidos políticos representados nas Assembleias de Freguesia e Municipais, garantes da democracia local, nas comemorações da revolução de Abril.

O formato não tem de ser a tradicional sessão solene, apesar deste tipo de evento traduzir a imponência simbólica que uma data como esta deve significar. Pode tomar a forma de uma Assembleia de Freguesia ou Municipal extraordinária comemorativa, do convite a Deputados da Constituinte que venham falar da sua experiência para a população ou para os jovens das escolas, de sessões de rua colectivas em que os eleitos dos diferentes partidos se juntam e distribuem cravos nas ruas, entre outras ideias que afirmem o significado político de Abril.
Mas aquilo que me parece mesmo importante é que o dia 25 de Abril represente de facto, não mais um feriado, mas o dia em que Portugal passou a ser livre e democrático, tendo como pano de fundo uma democracia assente nos partidos políticos, não esquecendo nunca, apesar do perigoso descrédito do momento que é preciso combater sob pena de por em risco o bem mais precioso de qualquer sociedade, a liberdade, que a nobreza da política se transmite através da palavra, e mesmo quando alguns utilizam a palavra fora de contexto, continua a ser a pluralidade e a liberdade de pensar e de falar que estão a afirmar 33 anos depois.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo!
Há necessidade de, para além da obra e de actos populares, conferir, de alguma forma, solenidade e dignidade ao 25 de Abril, protagonizados pelos Partidos Políticos, pela relevância que tiveram e continuam a ter na democracia portuguesa.

Anónimo disse...

25 de Abril, sempre!
Independentemente das comemorações creio que o mais importante é mesmo a sua explicação e a sua comparação com o "antes", que devem ser transmitidos aos mais novos que o não viveram pessoalmente.
Sob este ponto de vista, o programa que passou na RTP 1, da autoria de António Barreto, foi muito didático e eclarecedor.
É sempre bom lembrar às pessoas o que era a Saúde, a Segurnça Social, a Educação, a rede viária e os transportes, etc.
As pessoas esquecem-se que "antes" não havi Fundo de Desemprego, não havia Rendimento Mínimo, não havia Passes Sociais, não havia Reformas para todos como por exemplo os rurais, não havia acesso à Saúde, não havia Ensino eficaz pois a taxa de analfabetos era de cerca de 40%, não se podia falar no espaço público sem se olhar para ver quem nos poderia escutar, até havia licença de isqueiro!
Havia a guerra de África, havia a Censura Prévia em tudo o que era comunicação, havia a Polícia Política, havia a famosa concordata que impedia os divórcios.
Só me espanta como é que ainda existe alguém que possa pensar que o "antes" é que era bom...
Hoje somos um povo livre!